O nome do signo é frio como os ventos do norte: Libra. Mesmo assim, ele conseguiu fazer um trabalho de polimento tão perspicaz que o brilho foi capaz de encobrir a frieza. O brilho que atrai para a estrela que brilha na ponta da faca é o mesmo que cega quem pula tentando agarrar a estrela. Não há nada lá, exceto a ponta da faca. O brilho vinha de algum foco de luz. O foco de luz é externo, e sempre esteve fora. Mas foi em busca desse holofote que ele foi atrás, assim como muitos, esperando se tornar importante. Para metade das pessoas para quem mostrei o diamante, perceberam que era apenas uma pedra com um brilho vazio. No entanto, eu continuei a acreditar que valia muito, e que era reflexo de quem segurava a faca. (Sempre acreditei que quem segura a faca tem algum poder...) Mas o valor que eu dou a algo que eu enxergo é tão importante quanto eu mesma. Aliás, eu só vejo valor nas coisas que eu enxergo quando elas refletem a minha importância. Minto; a minha importância se reflete em tudo no que vejo valor. Ver valor numa pedra fria que vale dinheiro inglês é ver o meu valor, refletido no mundo em que sou obrigada a viver. No entanto, a pedra não me vê. A pedra é simplesmente o brilho vazio na ponta da faca. O valor que eu vi era reflexo do meu bem estar e do meu querer bem. Mais de uma vez, pulei direto na faca. Uma cicatriz extensa me faz hoje dar um passo atrás para ver de onde vem a luz. Surpresa minha ao perceber, no reflexo da faca, que vinha de mim!
Essa pessoa (eu ia dizer homem, mas ele está longe de ser um) sempre foi acolhida pelo meu coração, mas nunca me trouxe nada de bom. Do contrário, esteve sempre fazendo escolhas que me colocavam em segundo plano, terceiro, quarto... Último plano. Ele é alguém que me exclui da sua vida porque a namorada tem medo de mim. Medo de si mesma, medo de todo mundo. A relação deles é uma coleção de chantagens emocionais numa troca de experiências fortíssimas, porém horríveis. Mas é, como toda relação, uma troca de interesses. Um dia, ela foi o diamante bonito que ele viu e quis intensamente polir. Hoje, o diamante de tanto brilhar, perdeu a beleza. Bonita era a pedra bruta e o sonho de tê-la polida. Hoje ela é polida e triste, parada na estante, esperando ser escolhida novamente em primeiro lugar. Conto porque conheço a história. O polimento sempre foi do interesse dele; nunca do objeto. E as pessoas que se deixaram ser tocadas por ele, viraram pedras na estante. Sempre o mesmo corte, sempre o mesmo formato, sempre o mesmo polimento. Sempre o mesmo fim: a mesma estante.
Sua crítica é ferrenha como a de quem não vê a quem de fato estamos criticando ao criticar alguém; aposto que ele ainda diz para ela: “Você não é tão bonita quanto da primeira vez em que a vi.” E aposto que ela sofre, triste, mas continua impecavelmente linda, para não decepcionar a sua coleção de pedras fantástica.
Junto da estante dele, no seu quarto de troféus escondidos, está a coleção de pedras. Elas são a forma dos sentimentos dele, cristalizados, da idealização de pessoas que prometeram ser lindas, mas que no final do dia, acabaram sendo apenas pessoas. Ele não tem interesse em pessoas, ele sempre colecionou pedras! Enquanto coleção, elas são perfeitas. Lindas figuras no seu álbum de fotos da vida, são lindas as suas memórias tristes, são lindos os seus sonhos despedaçados. E é dessa melancolia que ele tira energia para continuar polindo.
Fui eu quem apontou o libra. Mas por causa do anel com a pedra bonita em sua mão, ele não pode me dar crédito por isso. Eu participei do processo, mas por causa da moça bonita que usa a outra metade da pedra no dedo, eu não posso continuar participando. Tudo sempre vem apresentado numa linda coleção de desculpas que não refletem em nada o meu valor.
Faltando o AR a mim, sobra uma gama de sentimentos. Assim não racionalizo, sinto. De sobra, a sensibilidade não me deixa transformar em pedras as pessoas ao meu redor. Então, mandarei um recado para essa pessoa, com todo o meu apreço:
Querido libriano,
Espero que você ganhe muitas libras com o seu sucesso! Mas não quero migalhas, então obrigada pela lembrança do nome na lista na porta do show; para ver da platéia junto com as outras pessoas do mundo, prefiro ficar em casa acompanhando pela televisão, me sentindo nada especial em sua vida. O meu coração tem o orgulho de quem sabe o próprio valor, e eu não aceito menos do que valho, de alguém que tem muito a dar, e que não dá por escolha. O meu brilho não leva conflitos às pessoas, leva amor e eu sei o meu valor. Por isso, aqueça os jovens com o holofote que brilha acima da sua cabeça, porque eu não aceito barganhas. Para me aquecer, só com o calor que vem do peito. Mas você ainda não alcançou este calor, porque ainda não sentiu falta dele. Não se preocupe, você não sentirá minha falta também. Pelo caminho, muitas pessoas o farão se lembrar de mim, mas nenhuma delas será eu. Beijinhos, sucesso! Até o dia da sua grande descoberta, quando você retornará e saberá que eu tenho razão, pois em nada uma balança apresenta equilíbrio a não ser igualando os pesos que coloca nos dois pratos.
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