segunda-feira, junho 18, 2007

A fortaleza

Eu sou uma árvore e, como tal, as folhas fazem parte de mim. A cada tombo que eu levo, a cada “terra abaixo” não sou eu que caio, são apenas minhas folhas. E fazem pouco estardalhaço, caem graciosamente. Faz tudo parte de um processo natural e é sempre calmo, ondulado e vespertino.
Árvores precisam de espaço. Seus troncos são esbeltos, mas suas raízes percorrem muito chão subterrâneo. Também suas copas tomam céu. As flores nascem e morrem, os frutos procriam e se vão, mas eu continuo o reinado neste pedaço de solo, semelhante às rochas. Não temos muita necessidade de movimento. Somos seres muito humildes. Não precisamos observar as mudanças para aprender com elas porque somos parte delas.
Sorte das formigas que vivem neste banco de madeira em que me sento; elas continuarão vivas. Não posso dizer o mesmo dos mosquitos. Quem mandou nascer cheirando a flor?
Está viva no banco a árvore que lhe deu forma? Formigas são curiosas, querem tatear todo e qualquer corpo estranho. Um tatear de formiga se assemelha a uma gota de suor descendo pelo corpo, de modo que penso logo estar coberta por insetos. Mas é só o suor, ativando os pêlos sensitivos da minha pele. As árvores não se incomodam com esse tatear. Acho que árvores também não suam. Mas mania minha de fincar raízes e ficar imóvel, imitando árvore. Nunca sei se árvore ou gato na toca.

Um comentário:

Anônimo disse...

nunca sei o que comentar para poder fazer uma diferença no já dito, mas essa mania de fincar é boa. e rara. tudo vai com qualquer ventinho hoje em dia.