quarta-feira, junho 20, 2007

Julio

Nunca imaginou que cortar a cabeça de alguém desse tanto trabalho; nos filmes não escorria tanto sangue. Mas todo o sangue que havia na cabeça escorreu para o chão do quarto, que era pequeno. Era um homem nojento, sua existência era toda nojenta e, sendo o sangue o que dava vida ao corpo, agora encontrava seus pés empapados numa poça interminável de sangue humano e nojento. Não havia previsto isso. Embora fosse, o corpo morto, um pouco mais sagrado do que o humano em vida. Havia ainda um corpo sentado na cadeira do computador. Será que tinha terminado a configuração nova? Ainda bem que sim! Senão ainda teria que fazê-lo.
Mas... O que faria com o corpo? Pensou em procurar na internet como se desfazer do dejeto. Pela primeira vez entendia o corpo como objeto, sem que fosse sexual. Estava com medo de mexer naquilo e mais sangue escorrer do corpo agora. Ficou imóvel, refletindo.
Desde que o conhecera havia detestado tudo sobre aquele homem, especialmente o fato de que namorava a sua mãe e de que tinha um filho pré-adolescente, com quem em muitas coisas se identificava e que o fazia se lembrar de si mesmo com aquela idade. Do filho gostava. Não tinha porque não gostar. Mesmo o pai sendo repugnante, entendia que coisas raras podiam acontecer. E ele era simplesmente detestável. Daqueles que gargalhavam de boca aberta durante o almoço, com a boca cheia, com aquela voz composta por ruídos aos seus ouvidos. Era um homem detestável; falava alto, tinha a pele manchada, cabelos lisos escuros, dentes escuros, uma voz estridente e chata, fumava, bebia, tinha uma existência ridícula e trabalhava com computadores, daquelas pessoas de que ninguém sente falta. Pensou estar fazendo um grande bem à humanidade, e sentiu uma colcha quentinha amansando sua alma. Agora que o sangue do chão estava esfriando, calafrios subiam pelas pernas, e a manta rapidamente se desfez na alma e começou a se sentir incomodado pelo sangue frio ensopando a sua roupa. Precisava agir rápido, mas estava profundamente enojado pelo corpo e pela cabeça do homem. Não tinha a quem pedir ajuda, e carregar um homem que não caminha é muito peso na cruz para apenas uma pessoa em uma vida.
Precisava aproveitar a noite para se desfazer da compania indesejada, mas não tinha tapetes em casa e tapetes também não eram muito criativos, já que todo mundo sempre desconfia quando vê alguém caminhando com um nas costas, apoiado, principalmente durante a madrugada, na zona norte do Rio de Janeiro. Não queria levantar suspeitas, mas não podia fazer nada senão admitir o crime somente para não ter que levantar um dedo para mover aquilo dali. "Deixar a porqueira para que os porcos limpem, já que eles gostam disso."- pensou. Sorriu com o canto da boca e discou 190.

2 comentários:

Rique Meirelles disse...

Hey, Alex!

Acabo de passar na comunidade do plástico bolha para postar o link de meu recém nascido blog e me deparei com o teu!

Muuuuuito show!


(e mt legal vc ter cantado hoje, hein?? :) )


:***

Rique Meirelles disse...

hey

=)


ultimoatlante.blogpot.com