segunda-feira, junho 18, 2007

O abraço

Deixe-me envolvê-lo com minha sedução de árvore retorcida, abraçando a sua vontade com minhas raízes secas, sugando sua vida própria com a ponta do meu abraço. Quero fazer você virar solo, virar húmus, virar suprimento para outras árvores e plantas. O meu abraço pode ser seco, mas sinta a umidade abaixo de você. O tronco é apenas uma casca que encobre o decorrer da seiva que me alimenta, e quero ter você dentro de mim, transformar-lhe em seiva. Sou árvore e posso aparentar ser distorcida, mas meu tronco é forte e minha estabilidade impressiona. Nenhuma brisa me causa estarrecimento a não ser na superfície, mas eu danço com meus galhos e folhas, sinto o vento passar por mim, me acarinhando e percebo então todas as outras árvores em volta e percebo também a generosidade do ar quando em movimento. Eu tenho milhões de segredos, um para cada camada de tronco. E a cada ano me aprofundo um centímetro no solo.
Quanto mais a sua consciência se fizer presente à umidade abaixo de você, mais pertencente a ela você será. Deixe-se. Deixe-me ver seu esqueleto sobressaindo à pele, enrugada com o passar do tempo, ver você se assemelhando a mim, descansando eternamente sob a minha proteção. Será então um zumbi que vive entre mundos, nem abaixo da terra, nem acima dela.

Um comentário:

Natacha disse...

mergulhar dentro da árvore.

é, menina, cada vez mais mergulhada em si.