terça-feira, junho 05, 2007
óvulo não fecundado
óvulo... no meu ouvido sussura o vento. voa... para fora do meu ventre. olho para baixo e vejo o escorrer de mais um mês de vida perdida. mais um plano de sonho não realizado. sangro com todas as dores de uma vida morta. vivo, com todas as dores de uma morte viva. olho para o meio das pernas e sinto a vermelhidão sofreguida que lenta me chama para dentro dela. rasga as paredes do meu útero, arranha como o fantasma do inascido. período que me faz mulher, me lembra mulher. quero voltar a ser menina, mas cedo foi-se a ilusão do abismo como ponto de partida. para baixo, apenas uma queda, pelo menos livre, pronta para o encontro de corpo e chão. para cima o céu aberto. a alma salta a cada tombo, fico menos pertencente a este mundo e faço mais parte de uma camada submersa. como muitos doces, tento suprir a falta. quero ninar o belo, quero ouvi-lo chorar. uma cantiga de ninar para este que se foi, acabo que pego no sono. são oito da noite, então escuto oito badaladas. preciso acordar para a vida. mas meu corpo se nega; ele quer respeito e luto.
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