De pé, sobre uma rocha litorânea, com uma xícara de vinho tinto nas mãos fiquei observando a erosão marinha. Cortes e recortes e subterfúgios internos às rochas. Observei a maré crescer e a violência com que as águas chegavam até a praia; lembrei-me de você e das suas águas, e a lua estava cheia. As rochas não se importam com a violência das águas, mas eu sim. A noite estava muito clara e os meus pensamentos também. Apenas à noite ouso pensar com tanta clareza. O barulho das ondas tornou-se ensurdecedor. Ao olhar o mar entrando por caminhos que talvez não lhe fossem devidos, imaginei que o sangue invadiria aqueles espaços com igual velocidade, mas quanto de sangue seria necessário para banhar uma pequena praia reclusa? Imaginei-me escorrendo, vermelha, líquida, pelas rochas. Percebi que o mar não estava invadindo apenas as pedras, mas as minhas feridas abertas também. A violência das águas de outrora causara uma erosão em mim.
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