Não tem saída: para esquecer um amor é preciso esquecer DO amor e de todas as possibilidades de amor. É preciso erradicar a lembrança de amor do corpo, ignorando todos os sentidos e os desejos. Porque quanto mais se tenta esquecer, mais se reforça a lembrança. Quanto mais pessoas eu conhecer e insistir em amá-las ou em descobri-las ou em explorá-las (e a mim mesma), mais pensarei naquele que amo. E não é que ele fosse bom demais; é que o amor transforma. As pessoas ficam lindas, ótimas, inteligentes, criativas, habilidosas, etc. Os defeitos passam a ser peculiaridades que definem aquele que se ama, tornando-a uma pessoa única e incomparável.
Não é que o sexo fosse bom demais; era que eu estava entregue. Não é que o beijo fosse bom demais, era que eu amava! Então o problema é o amor, não é a pessoa. Eu devo ter inventado a situação, devo ter inventado o prazer nas coisas que compartilhamos, o prazer na companhia um do outro, devo ter inventado os encorajamentos que me levaram a acreditar que ele gostava de mim, quando não gostava. Eu inventei uma relação! (?) Da minha parte, porque acreditei no que meus sentidos me diziam e, da outra, porque fui encorajada em pequenas doses, pequenas demais para eu poder cobrar qualquer compromisso (como "mas você DISSE QUE me amava" -- ele não disse, nunca disse. Assim como não dizia que eu era bonita, nem o quanto ele gostava de estar comigo. Não tendo dito, não achava tudo isso? E se não gostava, por que estava? Por que escolheu ficar isento de afirmar que não gostava, que medo é esse? Por que quis ficar isento do compromisso de dizer que não gostava quando gostava, ou de dizer que gostava quando não gostava? Isento de tomar alguma posição?), mas que o mantinha naquela posição privilegiada de receber tudo o que eu estava disposta a dar.
Tudo o que não entendo vira uma obsessão. A obsessão é um substantivo feminino, que nem "droga". O gênero é muito preconceituoso, como a religião. Aprendemos a nos expressar por essa gramática do português, que coloca o masculino como o padrão geral e o feminino em segundo plano. As nossas reações e o nosso universo feminino ficam fora do padrão geral. E olha o que eu acho sobre isso: [uma banana]. Eva pode até ter dito que estava com fome, mas aposto que foi Adão que pegou a maçã para ela! E aposto que ele ainda deu a primeira mordida. E aposto que ela levou a culpa. Os homens esquecem que não são filhos só das mulheres; só as mulheres são culpadas pelos frutos que geram. Esqueça o pai e esqueça o pau; eles estão isentos de culpa.
Então, se gosto, a responsabilidade é só minha. Se lembro ou se esqueço, tanto faz para o outro. O que sinto ou deixo de sentir é um fruto só meu. (É?) O meu amor é o filho de uma mãe sem pai. Mas desacredito. E essa descrença me faz pensar que ele gostava sim, mas tinha medo. E essa crença de que ele gostava me faz continuar gostando. E é assim que eu invento. Eu me recuso a acreditar que eu tenha inventado tudo! E ele permanece na posição número um, e não porque era bom demais. E ele consegue justamente o que queria: tem a mim, sem nenhum compromisso (mas também sem presença) -- já que a fidelidade para ele era apenas isso: que ele fosse o melhor entre todos. Só que ele não entende que não é ele que está lá com a medalha, é o próprio amor. E eu não entendo como viemos parar aqui, como, apesar do que sentíamos, fomos para o beleléu. Eu sentia sozinha? Será que estar comigo era apenas uma questão de vaidade? E volto à questão um.
Não é que o sexo fosse bom demais; era que eu estava entregue. Não é que o beijo fosse bom demais, era que eu amava! Então o problema é o amor, não é a pessoa. Eu devo ter inventado a situação, devo ter inventado o prazer nas coisas que compartilhamos, o prazer na companhia um do outro, devo ter inventado os encorajamentos que me levaram a acreditar que ele gostava de mim, quando não gostava. Eu inventei uma relação! (?) Da minha parte, porque acreditei no que meus sentidos me diziam e, da outra, porque fui encorajada em pequenas doses, pequenas demais para eu poder cobrar qualquer compromisso (como "mas você DISSE QUE me amava" -- ele não disse, nunca disse. Assim como não dizia que eu era bonita, nem o quanto ele gostava de estar comigo. Não tendo dito, não achava tudo isso? E se não gostava, por que estava? Por que escolheu ficar isento de afirmar que não gostava, que medo é esse? Por que quis ficar isento do compromisso de dizer que não gostava quando gostava, ou de dizer que gostava quando não gostava? Isento de tomar alguma posição?), mas que o mantinha naquela posição privilegiada de receber tudo o que eu estava disposta a dar.
Tudo o que não entendo vira uma obsessão. A obsessão é um substantivo feminino, que nem "droga". O gênero é muito preconceituoso, como a religião. Aprendemos a nos expressar por essa gramática do português, que coloca o masculino como o padrão geral e o feminino em segundo plano. As nossas reações e o nosso universo feminino ficam fora do padrão geral. E olha o que eu acho sobre isso: [uma banana]. Eva pode até ter dito que estava com fome, mas aposto que foi Adão que pegou a maçã para ela! E aposto que ele ainda deu a primeira mordida. E aposto que ela levou a culpa. Os homens esquecem que não são filhos só das mulheres; só as mulheres são culpadas pelos frutos que geram. Esqueça o pai e esqueça o pau; eles estão isentos de culpa.
Então, se gosto, a responsabilidade é só minha. Se lembro ou se esqueço, tanto faz para o outro. O que sinto ou deixo de sentir é um fruto só meu. (É?) O meu amor é o filho de uma mãe sem pai. Mas desacredito. E essa descrença me faz pensar que ele gostava sim, mas tinha medo. E essa crença de que ele gostava me faz continuar gostando. E é assim que eu invento. Eu me recuso a acreditar que eu tenha inventado tudo! E ele permanece na posição número um, e não porque era bom demais. E ele consegue justamente o que queria: tem a mim, sem nenhum compromisso (mas também sem presença) -- já que a fidelidade para ele era apenas isso: que ele fosse o melhor entre todos. Só que ele não entende que não é ele que está lá com a medalha, é o próprio amor. E eu não entendo como viemos parar aqui, como, apesar do que sentíamos, fomos para o beleléu. Eu sentia sozinha? Será que estar comigo era apenas uma questão de vaidade? E volto à questão um.
Um comentário:
"Os amores são como os impérios: desaparecendo a ideia sobre a qual foram construídos, morrem junto com ela." Milan Kundera.
Postar um comentário