sábado, maio 30, 2009

Ascendente em água - água costuma vazar

Agora lembrei de tudo: por que não me lembro de absolutamente nada do segundo grau. Eu não tive nenhuma ligação emcional com aquelas informações! E a ligação emocional com as informações É O QUE FAZ a água deter a informação. Fora isso, as informações são levadas pela correnteza. Não dá pra estudar e trabalhar com algo que não desperte as emoções, as minhas paixões. É só por isso que não lembro as relações físico-químicas interesantíssimas do segundo grau. Foram apresentadas desprovidas de ligação emocional ao mundo que eu conhecia. Tenho certeza que foi o mesmo caso com Geografia e História. Tenho certeza que vou saber exatamente onde fica cada país e os países que fazem fronteira com eles assim que eu viajar para lá e viver histórias que me marquem, emocionalmente.

E então, o atraso. O mundo não valoriza esse tipo de armazenamento. "São menos inteligentes as pessoas que precisam passar pela experiência do que aquelas que aprendem a partir da experiência dos outros", foi o que escutei a vida toda. Então, precisei passar por todos os estágios que não eram meus antes de começar a me pesquisar só para saber que não tinham nada a ver comigo e, por isso, ainda sou uma criancinha aprendendo o abecedário. Meu irmão reclama que ele não é valorizado aqui no Rio de Janeiro, porque o estilo da cidade não combina com ele. Eu também sinto isso mas, agora, temo que não vá encontrar lugar no mundo que valorize o conhecimento emocional, que saiba decifrar isso, saiba entrar, se comunicar. Talvez essa função esteja destinada a mim, mesmo. Existem algumas áreas de conhecimento que me interessam, pois lidam com isso; todas as ciências esotéricas, Psicologia, Arte... e Linguagem. Nossa, como me interesso por linguagem! Uma vez que se começa a estudar os processos psicológicos da linguagem é um mundo para dentro... Estudar Linguística é fantástico, é uma coisa meio mágica. Mas... Até virar especialista... Eu não li nem todos os meus livros de astrologia! Sou um bebê precisando dizer o que aprendeu, que o aprendizado que dispuseram para mim não serviu. Precisei refazer tudo e só perdi tempo. Agora lembro de tudo.

Talvez eu não devesse ter me desfeito das cartas que me fizeram sorrir, porque... É bom manter essas lembranças por perto. Lembrarei disso de agora em diante. Manter por perto as coisas que me lembrem de tudo o que for importante E BOM. (Por isso disse ontem e apaguei, antes de postar, que eu não posso carregar todas as informações... Porque é isso que me proponho a fazer. Como lembrar de tudo o que é importante para mim se o meu código é diferente de 90% do mundo, que me lembra, a cada instante, que não sou nada? Como lembrar de ler as cartinhas das pessoas amadas que está lá no fundo do meu armário, toda vez que estiver triste? Não dá pra levar tudo mesmo. E lembrar de tudo o que conectou um processo emocional que me levou a uma revelação maior e etc etc etc) etc ETC Água costuma v a z a r

Mães de ascendentes em água: entendam quando os filhos de vocês precisarem estar conectados ao ambiente para poder funcionar. Não adianta forçar um peixinho, um caranguejinho ou um escorpiãozinho em um ambiente hostil. Ele vai secar. E até se desenvolver de novo... Coloque muitos anos desse filho debaixo da sua saia. Então, prestem atenção.

quinta-feira, maio 28, 2009

Cartas

Ficou pesado demais; o fluxo, as veias quase entupindo, o coração tardando em bater e, depois, batendo depressa demais. Não sei que fim tiveram o meu passaporte e os meus dólares, alguém pegou, acho, muito movimento em casa no último ano, obras, mudanças, etc. Enfim... Estavam guardados e sumiram. Mais de uma coisa sumiu. O meu livro de Saturno, da Liz Greene, também sumiu. Logo Saturno, que quer ser encontrado, sumiu. Procurando por eles, achei o meu número do PIS, coisa que nem em sonho eu pensaria em ter e que também estava precisando e, no processo, parei tudo para fuçar quatro pastinhas nas quais eu guardava cartinhas escritas a mim durante toda a vida; cartões de natal, de aniversário, bilhetinhos de escola e cartinhas de amor. E foi uma semana de poucas esperanças para mim, até bater de cara com essas mensagens do passado. Eu suguei para dentro de mim todo o conteúdo feliz, desejado, todo o amor que as pessoas me desejavam e sentiam por mim; todos os elogios, todas as felicidades, todas as coisas boas e rasguei em pedacinhos quase todas as representações dessas coisas na sua parte material, e depois, joguei fora. Guardava muito e queria guardar tudo, cada momento, cada lembrancinha. Senti um certo poder; rasguei as cartas de amor eterno, embora eu tenha ficado com o amor e a dedicação que foram usados no momento de escrita daquelas cartas. Rasguei as felicitações carinhosas de pessoas que jamais me esqueceram, e continuaram me enviando, ano após ano, cartões de aniversário e natal. Tem gente que realmente nunca se esquece. E foi tão interessante essa viagem. Foi tão bonita. Eu vi que também as pessoas vêem em mim a sua melhor parte, uma parte com a qual não têm muito contato, e que conseguiram, mesmo que brevemente, ver o fantástico de cada uma delas. Elas, então, acharam que eu era maravilhosa quando, em verdade, eram elas mesmas. Fiquei feliz. Muito amor as pessoas vinham me mandando todo esse tempo, e que eu estava deixando de lado; existem pessoas que são leais a você, mesmo estando afastadas. Existem outras que eu jamais imaginei que fosse encontrar uma carta delas ali, pessoas apaixonadas por mim, se declarando, mas falando coisas interessantes e bonitas (não só as óbvias e cafonas, muito pelo contrário), gente que se abriu, por algum momento e resolveu expor os sentimentos para mim. Gente que se pesquisou, se questionou, gente que se viu sem medo. Talvez, naqueles momentos, tenham sido péssimos momentos, mas espero ter tratado a maior parte dessas pessoas com carinho, como tento fazer hoje em dia. Retribuir ao máximo todas essas coisas boas que recebo, sendo generosa. Sim, rasguei as cartas mas não as pessoas, e joguei fora o peso do papel, e guardei apenas aqueles sentimentos bonitos, etéreos, leves. E aprendi hoje, muito! Porque li cartinhas que escrevi quando era pequena e tinha oito anos (e foi minha primeira experiência -- e fortíssima para oito anos -- de coração partido) e a carta que escrevi para lidar com isso, que nunca entreguei... Me mostrando uma pequena escorpiana, menina, já furiosa e cheia de rancores. E muita vontade de abraçar a mim mesma, por achar aquilo uma graça. Meu primeiro amor... E todos os outros que vieram depois. Não necessariamente apenas namorados, mas amigos também, por quem já fui apaixonada no sentido de grudar e andar pra cima e pra baixo, sem parar. Viver, sonhar e respirar aquelas amizades, morrer e ser transformada por elas e, é claro, transformar também. Fiquei tão orgulhosa de ter a maior parte daquelas pessoas por perto, ainda que longe, e de saber que sempre caminharão comigo por onde eu for. E de passar a saber que, quando pensarem em mim, pensarão em bons momentos, pensarão com saudades e com amor. Achei isso tão bonito, tão simbólico. Não sou apenas uma bruxa feia; também sou uma bruxa bonita. Isso vale muito mais do que os dólares que eu perdi.

quinta-feira, maio 21, 2009

Garganta e estômago

É preciso haver filtros. Cortinas coloridas translúcidas, pelas quais a luz possa passar quebrando em tons magníficos. Lentes de óculos escuros, uma para cada humor, para quantos dias for necessário. Até lentes cor-de-rosa sim, por que não? As vermelhas já não tanto me atraem; acho o mundo por demais marcial e cheio de UV para que mais vermelho seja pintado às bordas do meu mundo. Rosas perfumadas em cima da mesa; nunca havia visto uma rosa lilás, nem outra pink. Comprei uma de cada e ganhei mais uma. Estão belas, me olhando. Sol do meio-dia. Que mau-humor! Metade do dia hábil já se passou e estou começando o meu agora; mania de ser noturna, mania de criança de resistir (ao sono). Sol entrava pela janela sem pedir licença e quente, pelando, lambendo a minha coxa, incomodando. Foi só fechar um pouco a cortina bela verde translúcida que o mundo mudou. Tudo mudou. Nesse pequeno gesto e simplório, a vida pareceu um tanto melhor. Pessoas se protegem de diferentes maneiras. Formam pensamentos rígidos para se proteger contra as idéias invasivas alheias. No meu caso, agora, não é bem uma proteção, não é uma barreira nem um enrigecimento; é uma adaptação, um truque, para que eu não precise engolir mais do que posso cuspir, nem engolir mais do que posso digerir. É que gosto da vida em cores fortes mas quebradas em tons pastéis, já que sou fã do sombreado e do escuro (apesar de temê-lo). É preciso passar a vida numa peneira. Pedras rolam sobre nossas cabeças nessa "ida ao mundo diário". Meu conselho: use um chapéu de ralador de pedra. E use quantas lentes quiser, quanto mais melhor, se aproxime mesmo da loucura, escute todas as vozes. Mas não deixe que todas entrem, para que você não precise engolir mais do que pode cuspir, nem mais do que pode digerir. Usar as cores para acalentar-se, para sentir-se mais belo, mais feliz, mais próximo do próprio mundo. Ir ao mundo com esse matiz, morar atrás do arco-íris.

sábado, maio 16, 2009

SombraS

Escrevo em primeira pessoa para que o leitor tenha a possibilidade de se ver enquanto leitor de si mesmo. Ao invés de chamar você convidando a todos, falo diretamente a um interlocutor que é, ao mesmo tempo, narrador.

É uma possibilidade, um teste, uma inovação que faço por aqui. Não é necessariamente nem você, nem eu. Vamos tentar assim, ok? Vamos imaginar que estamos, os dois, suspensos nesse espaço da transição, e não somos nós agora, mas seres desprendidos de nós mesmos. E somos únicos, mas somos partículas, e somos todos.

Então, agora, vamos falar do momento da invasão. Um jeito de se defender é englobar o outro. Enquanto os homens fazem isso com as suas espadas, as mulheres assimilam o "estrangeiro". Assimilam seus parceiros, suas amigas, as situações, tudo. O mundo não percebe que tudo aquilo que é assimilado pela cultura de cada época passa, inevitavelmente, pela vagina gigante do próprio mundo.

Por isso é bom colocar os pingos nos "i". Os homens matam uns aos outros; oferecem resistência de ponta. As mulheres não oferecem resistência e sugam o outro para dentro. Mas ia dizendo que esse método é igualmente de defesa. Para não lidar com a exposição direta, faço a digestão do outro. É um processo muito orgânico. Não nos defendemos, necessariamente, de todos que encontramos; só quando acontecem as relações de espelho, e puxamos para nós as pessoas que vão nos lembrar daquilo que temos dificuldade de ver. Puxamos para nós pessoas que trazem as nossas sombras. Poucas pessoas trazem boas novas, nos trazem percepções irradiantes daquilo que somos; a maioria nos lembra mesmo de quem somos no aspecto telúrico, nos aspectos mais difíceis (porque são "escondidos", sólidos, secos).

Mas isso não significa que não podemos gostar desse processo e continuar tendo prazer; e quer dizer menos ainda que ele seja fácil de lidar quando acontece na realidade. As pessoas que entram em conflito estão se projetando mutuamente, e é precisamente esse o ponto mais difícil de encarar. A idéia é conseguir uma terceira maneira de lidar com as coisas, além da feminina e da masculina. Nem colocar o problema na ponta da espada, nem engolir para digerir. O negócio é conseguir pensar numa terceira alternativa, que seja (de alguma forma) o somatório das outras duas. É se aceitar enquanto ser maravilhoso e enquanto ser espezinhante também, e se amar nos dois momentos, enquanto rolam os conflitos e até depois, e o que nascer disso, dar comida pra crescer forte e cada vez mais definido em seus contornos mundanos. E aprender essa nova forma de lidar com as coisas, que precisa ser entendida e apreendida antes de ser usada.

terça-feira, maio 12, 2009

(a -) E (- i - o -) U

A dor quebrou o gelo do meu corpo; ao invés de fechar, abriu. Posso abraçar, enfim, meus irmãos e irmãs: sou livre. E farei ao contrário do que todos dizem: "POR ORGULHO -- ISSO MESMO, NÃO ACEITE MIGALHAS! JOGUE FORA", amarei independente do que ganho (ou perco) com isso, amarei mesmo longe, mesmo sem volta, mesmo sem laço, mesmo sem outro e mesmo que sejam muitos, porque agora ficou tudo claro. Amar assim é me dar o que preciso; é medicina de cura. Sou eu, dando "oi" a mim mesma. Eu estou me retirando das trevas da negação, das trevas do não amor, da não aceitação, e estou fazendo isso sozinha e por mim mesma. Hoje à noite, encontrarei esse antigo monstro e o transformarei no melhor amigo que já tive.

segunda-feira, maio 11, 2009

Balança de Véus

quase toda postagem tem um título, assim como quase toda pessoa tem um nome, assim como quase todo nome pode ter uma quase toda pessoa como dono. quase todo namorado tem uma namorada, e quase toda namorada tem um namorado, com exceção daqueles que namoram sem querer ou que querem sem namorar. eu achei que pudesse ser por acidente que acontece o amor. o gato coça as orelhas com a pata de trás. o que será que é? eu não posso. tenho mãos. eu não posso. não posso! já disse que não coço! mas tenho pulgas atrás da orelha. uma e meia da manhã, menos cinco décimos na nota final de tradução porque deixei de fazer o trabalho chato, pra discutir uma ~relação -- que não existe mais -- pasmo. mas já tinha aberto a boca mesmo, achei melhor bocejar. que antes eu preferia ser beijada, mas agora tanto faz. não quero esperar mais. quanto mais eu toco a campaínha, mas ele sai pela janela dos fundos e quanto mais ele finge que não está em casa, mais eu corro atrás. eu acho que isso é algum tipo de equilíbrio; alguma toda gente procura exatamente o que não quer encontrar e deixa de procurar o que quer, com medo de encontrar e não achar. tem gente que se combina porque o que ele gosta de fazer ele faz e ela consegue gostar porque acha que ele faz só porque é pra ela, sem pensar que ele só faz porque gosta... tem gente que se encontra assim. eu só me encontro quando perco o outro. é sempre assim. nunca encontro alguém que por motivo algum esteja aqui só porque queira ficar. as pessoas sempre estão de passagem pelas minhas raízes compridas e longas. não é que eu queira descer, é que preciso de água. preciso viver. seiva. não é que eu seja profunda, não é que eu desça por querer. é que o dia que eu puder sugar seiva de gente eu acho que me acomodo. viro uma daquelas malignas. deitou aqui para sombra e frescura, deitou na raiz e virou dacáver. assim, do avesso, porque é num piscar de olhos, já aconteceu, não dá nem pra pronunciar certo. mas gostaria que você tivesse ficado um pouco mais. tenho coceiras que não posso coçar. você vive só; quanto mais você disser que não quer, mais eu vou querer, fica um pouco difícil de equilibrar. porque quanto mais eu quero, mais você diz que não quer. fica um pouco difícil de equilibrar.

sexta-feira, maio 08, 2009

Amor

Caso não pareça, esse é um lugar de amor. E eu gostaria de me desculpar pela força além da força. Eu amo, e parece que eu mato. E eu me transformo com e sem transtornos. Eu olho para você e vejo através de. Quero transformar você também. Através do amor, mas A FORÇA é maior que eu, ela é além de si mesma, e eu devia ter escutado quando você disse que eu dava muito medo, eu dou mesmo. Eu entendo. Quero mudar isso também, quero ser toque sensível, penetrar com cuidado, com carinho, acertar de levinho, ir macio. Queria saber a hora de parar E CONSEGUIR parar. Queria não ter que ir até o fim sempre... Queria simplesmente amar, sem morrer nem matar. Eu quis você.

EU QUIS VOCÊ.

Vi uma pessoa tão diferente de mim e tão bonita, quis ter perto para aprender, para compartilhar, para entender, para amar, para achar graça e todas as coisas boas que se tem quando gostamos de estar junto. Mas você quis estar Estamira, aqui e lá e em todo lugar, sem pertencer a ponto alguém. Não pertence nem ao nosso mundo, não pertence a nada conhecido, não SE pertence. Mas eu amo. Infinitamente. E continuarei, porque não posso parar. Preciso ir até o fim, por mim. E amar dói, viu? E COMO. Não existe uma letra que possa cobrir esse tamanho. Amar sem ser amado, amar e perder. Amar e perder, por um movimento mais brusco, assusta-se o gato. É que os gatos reagem, eles são pouco donos de si. São muito flexíveis e ágeis, mas também não se pertencem. E eu pretendo ser dona de mim, para poder ser livre quando quiser e ser o que quiser quando EU quiser, e não ser o que a vida faz de mim, ou as pessoas, ou a relação, ou qualquer outra coisa fora mudando quem eu sou dentro. Mas, gostaria de me desculpar pelo controle da situação, pela falta de jeito, pela força excessiva, pelo meu modo de operar sacerdotisa de ser. I'm so sorry, Alex. EU TE AMO.

quinta-feira, maio 07, 2009

E foi assim

Que depois de uns dias dentro da sua casinha, a lagartinha, que estava tristinha, pôde se reconciliar consigo mesma e procurar uma nova folha preferida. Na árvore, as opções eram tantas, que ela mal sabia por onde começar. Via todas aquelas folhas verdinhas, esperando para serem comidas. Umas eram melhores para janta, outras para servir de cama. Mas todas podiam ser aproveitadas e todas eram lindas. E então, foi a lagartinha procurar por diversão. Afinal, experimentar todas aquelas folhas levaria um bom tempo, e ela sentia que precisava começar .
Depois, precisava pensar a frente: onde colocar o seu casulo? Viajou, passeou, conheceu, experimentou e descobriu. De lagartinha experiente passou a linda borboleta, e saiu voando por aí, agora de flor em flor! "Que vida deliciosa", pensava. E nunca mais precisou se preocupar com os dias no sol ou na chuva. Simplesmente a natureza estava ali para louvá-la e ser louvada por ela.

quarta-feira, maio 06, 2009

Submissão


Submissão imposta -- os valores do coletivo que tentaram matar minha alma de mulher.

A parte selvagem de mim que tem como natureza amar é o mesmo bicho selvagem que rosna e uiva para a lua cheia, quando ferido. É o bicho curioso que, por ignorância, se deixou ser capturado. Sem esperanças, a jaula passou a ser a única companhia, e por isso, aprendi a comer quando colocassem comida, e a somente pedir por água quando muito sedenta. Resignação. A parte domada aprendeu a comportar, devido aos chicotes e gritos, e é claro, à falta de alimento. Mas cada dia a fome da alma era maior, e nenhuma água saciava minha sede. Um dia a lua vermelha lançou os seus raios para reunir os seus filhos, e me libertou abrindo a porta da jaula. CORRA. E aviso: corra.


Submissão por vontade -- distorção da força instintiva de mulher loba. A mulher feral.

Eu me arrumei para você, você gostou? Está gostando da comida, quer mais um pouco de vinho? Você está cansado, quer uma massagem? Ah é, você gosta de apertar com força a minha boca? Que engraçado! Pode apertar, só tente não tirar sangue, pois como irei beijá-lo depois? Chega, já está doendo... Tá bom, só mais um pouquinho. Venha, deite aqui, deixe-me esfregar os seus pés. Amor, quer mudar de travesseiro? Não? Assim está bom? Que bom. Sim, a sua vida é deveras interessante. Nossa, como você é inteligente! Amor, eu te amo. Adoro viver com você.

[Por favor -- me ama. Fica comigo. Só mais um pouquinho, só por mais um dia, só mais uma hora. Não me importo que você não se importe comigo, me chute um pouco mais, pode me bater. Eu te perdôo se você desaparecer por dias. Eu juro que amo você. Não ligo pras suas amigas, pode sair com elas sem me avisar. Eu preciso de você. Faço o que você quiser, mas fica comigo. Diga o que quiser; mas fica. Desconte em mim a sua raiva, sua impotência. Pode caminhar em mim com os seus pés calçados: eu não ligo. Mas fica comigo.]


terça-feira, maio 05, 2009

Aceite o sacrifício do meu corpo

Difícil acostumar com a idéia de finitude. Talvez essa seja a maior lição dessa época de Saturno. Não é o peso das cobranças e das responsabilidades, não é o aumento de demandas e de carga horária produtiva, mas a falta de esperança com relação ao infinito. Existe uma percepção visceral de que o infinito não é alcansável, e que talvez eu não tenha tantas escolhas assim na vida, nem tantas opções de mudança, já que eu não consigo sair das minhas próprias limitações emocionais (que são: não conseguir ignorar, não conseguir fugir, não conseguir abstrair do que sinto). O fato de precisar entrar a fundo nos processos, me doer, entender, mastigar, aprender, tirar algo de bom disso tudo. Aprender a dor, aprender o difícil, aprender o fogo, aprender a me aceitar assim, intensa, cheia de paixão, tanto para doar ao outro quanto para destruí-lo. Evito, porque sei que quando mato também morro. Mas... Como manda o livro da lei, os acertarei num golpe rápido e violento. Eleguá me emprestou sua língua. E, que o outro seja um rei para que eu não possa feri-lo. Tantos que eu gostaria de ter destruído, mas que só engoli. Cronos e pedras; sapos e nós. Nós: pronome pessoal do caso reto e também substantivo masculino. Ambos no plural. É a primeira pessoa do plural... Nós não demos aos mãos, demos nós. E eu, dei a mim mesma: mente, corpo, coração. Fui uma mulher feral; selvagem e domesticada, depois selvagem de novo. Capenga, rasgada, sem um pedaço agora. A caminho da caverna para curar as feridas.
Diz que eu não sou de escorpião agora. Qualquer pessoa que tenha me escutado na última década... A dor no peito é um detalhe, o sangue é só um detalhe no cosmos. Mas é todo o infinito que eu consigo alcançar. Para dentro, e abaixo. Presa, dentro do meu próprio corpo. Submetida por vontade própria; escolhi a limitação. Escolhi?


segunda-feira, maio 04, 2009

A secura das águas doces

Odé era dono das matas, e um dia se enfureceu porque as águas de Oxum teimavam em invadir o seu reinado. Mesmo Oxum argumentando que suas águas eram necessárias aos animais e à vida da floresta, Odé não quis saber. Recorreu a Olorun, que resolver separar bruscamente os dois reinos. Com o tempo, a mata que antes era verde e exuberante foi ficando seca e definhando, a terra não era mais fértil e os animais não tinham de comer, nem de beber. Oxum sentia-se muito solitária, mas não intercedia na decisão de Odé, e era confortada por seus filhos, os peixes. Mesmo assim, Odé não deu o braço a torcer; teimou que conseguiria alimento em outro lugar para dar aos seres do seu reino, mas sempre encontrava o mesmo cenário desolador. A floresta estava morrendo, e Olorun explicou a Odé que ele precisaria se reconciliar com Oxum. Então, Odé colocou seu orgulho de lado e foi procurá-la. Mas, antes de aceitar, ela precisava que ele reconhecesse as suas qualidades, e precisava que ele se desculpasse. E ele o fez, e então, da união e reconciliação dos dois, nasceu o príncipe Logun-Edé, a margem dos rios.

Oxum costuma dar o melhor de si, e se ofende quando não é reconhecida. Ela também foi enfeitiçada pela bruxa Oxorongá, que a grudou em seu próprio trono, impedindo Oxum de reverenciar o grande orixá Oxalá, em uma visita ao seu palácio. Mesmo assim, fazendo um grande esforço, ela se levantou, se ferindo gravemente e manchando com sangue vermelho o palácio e as roupas. Oxalá, ofendido, vai embora do palácio de Oxum, que havia sido todo cuidadosamente preparado por ela para recebê-lo. Oxum fica muito entristecida. Mas Exú intercede a favor de Oxum e explica a Oxalá o ocorrido, que volta muito feliz com o esforço dela para recebê-lo. Por isso Oxalá sempre escuta Oxum.

Será que as filhas de Oxum sempre sofrem desses males?

"eu te amo": código operacional do sistema de segurança

Certificado. A rede pode prosseguir normalmente com as operações. Código de segurança "eu te amo" encontrado no arquivo "self". Download do novo programa em cinco, quatro, três, dois... Se não tiver certeza da operação ou não tiver encontrado a informação que procura, clique aqui. Para abortar operação, clique em "sair". Para prosseguir, ignore esta mensagem.

domingo, maio 03, 2009

Para sempre

A minha guitarra acústica perdoa, ao contrário de mim. E, por isso, eu a amo. Ela me ajuda a transmutar o que sozinha não consigo. Ela me eleva a potência de universo, o que sozinha não consigo. Ela é maior que eu e aumenta o meu tamanho, o meu alcance passa a ser em ondas ao invés de intervalos. Eu passo a ser contínua, uma voz, um tom, ao invés de relâmpagos explosivos. Eu prefiro viver assim.
oo
Nos tiraram o "para sempre", já perceberam? Onde a gente pode ter o para sempre na vida? Não existe mais eternidade, porque não existe mais além. As dimensões ocorrem simultaneamente. Não existe mais reencontrar os entes queridos e passar a eternidade juntos, porque o Cristianismo não é mais a crença preponderante. Não existe mais nenhum amor que dure para sempre, nem mesmo em pensamento; não existe nada que dure para sempre. Nem a vida no planeta Terra, nem mesmo o Sol, nem mesmo a nossa galáxia vai durar para sempre. E se alguém disser que a eternidade é formada por uma sucessão de eternos inícios e fins, que universos inteiros nascem enquanto outros morrem, é o mesmo ao que estou chamando de eternidade. Mas esse eterno passou a ser finito. O Universo é menos desconhecido e é finito. Não é mais para sempre. Marte está logo ali. Nem o para sempre dos contos de fada existem mais, foram desmitificados. Não existe a menor possibilidade de esticar nossa estadia aqui e, uma vez mortos, acabou; as nossas esperanças, o poder de olhar para cima e pensar que o céu ou o mar são infinitos: não são. A água pode acabar. Os recursos podem acabar. A vida pode acabar. Nossas esperanças morrem quando acordamos para o dia de luta. O amor pode acabar. As lembranças podem ser esquecidas. Nada é para sempre. Ele se foi e deixou a sua sombra. Queremos o para sempre, achamos injusto que outras gerações tenham tido a possibilidade de crer no para sempre (mesmo que não fosse de verdade); era tão bonito. Viver com a idéia de falta, secura, limite, finitude, morte a cada suspiro, a cada esquina, a cada nova possibilidade... É EXAUSTIVO. O para sempre era contínuo, era uma possibilidade de união, e nós vivemos todos segmentados uns dos outros, segmentados dentro de nós e segmentados na própria vida. Somos os espaço entre duas palmas da mão, vivendo no intervalo de tempo entre uma palma e outra.

Morar sozinha II

Tudo fica bom na panela de pressão.

sexta-feira, maio 01, 2009

Cristiana (Maybe California)

Não seria sexy se eu começasse a falar sobre as minhas calcinhas? Elas são de algodão e algumas têm coraçõezinhos. É a primeira coisa que faço depois de me enxugar, vestir uma calcinha. Uma gaveta inteira de calcinhas, de todos os tipos. Mas então as namoradas não viriam mais aqui e se esconderiam de mim, com medo de os namorados(as) descobrirem as minhas calcinhas, o meu sexo, o meu cheiro de mulher, e proibiriam seus homens/mulheres de vir aqui me visitar, e de ler o que eu tenho a dizer. Eu não ia gostar se meu namorado visitasse um blog de uma garota que falasse sobre as calcinhas dela. Eu não gosto de pensar que existem outras calcinhas no mundo além das minhas, quanto mais o que há além delas. Poxa, eu tenho uma gaveta inteira, cheinha de calcinhas, isso não pode ser suficiente?! Eu sei que também gosto de olhar, que o corpo feminino é a coisa mais perfeita que já inventaram, mas queria por um dia inteiro não pensar em peitinhos e bundinhas, e ser um dia inteirinho toda sua. E ser a única. Queria que o seu ser inteiro, a mistura entre o seu ser masculino e a sua ser feminina, fosse namorado do meu ser inteiro, mistura da minha feminina com o meu masculino. Para que tivéssemos um dia de liberdade. Mas como desconheço a minha inteireza, e desconheço a minha própria divindade, milagre único, a minha parte mais maravilhosa (e que existe neste mundo) que sou eu, nascida assim, com tudo o que eu já vivi, eu nego a minha própria sexualidade para fingir que nada mais existe no mundo além de você e além de mim. Eu finjo esse amor, e me restrinjo. Você finge esse amor, e vai morrendo aos poucos. E vamos morrendo juntos. Eu finjo que sou só sua, que minhas calcinhas só ficam coloridas por você. Eu finjo que eu entendo o mundo como é, as capas de revista masculina, o que as mulheres fazem com elas mesmas e finjo que não tenho o menor problema com as suas amigas que também são bonitas, nem com as que são feias mas que você já ficou, e finjo que você pode ser livre sem que isso me magoe. Eu finjo que os homens internalizaram bem as suas imagens de mãe, e que conseguem sim amar outra mulher. Eu finjo porque preciso, porque tenho que sobreviver a isso, não porque eu gosto. E eu olho para você e penso como tudo isso já ficou sem graça, porque é só uma repetição daquilo que todos nós já vivemos e já sabemos que não queremos -- mas que não sabemos fazer melhor porque o mundo passa por essa transformação dos relacionamentos e nós estamos bem na curva -- mas daí a ser completamente permissivo é morte súbita. E acho que eu também prefiro ir sentindo a morte chegar, aos poucos, para ser menos traumático. Geração de plutão em libra: ainda é só o começo. "Ok".

Morar sozinha

-- preciso aprender a gostar de lavar a louça do almoço... (panelas, fogão...).

Abro mão

Abro mão da encarnação em que eu fui mulheres sem pudor, passeando nua pelos campos que ainda existiam, e dos vários amantes que tinha, homens e mulheres, abro mão de todos os dias que passamos juntos, dos passeios à cavalo, dos banhos aromáticos, dos quartos enfeitados de cetim, das luxúrias, dos carinhos. Abro mão do dia em que eu fui tão mais liberta, na mente e no corpo, e não tinha tantas preocupações e medos que me limitam tanto hoje em dia. Hoje em dia... Naquela época eu não tinha noção dessa expressão, então abro mão disso também. Abro mão das jóias, dos amores, das cortes, dos bailes, dos banquetes, das honras, dos panos, dos empregados, abro mão dos escravos, dos serviçais, dos 144 quartos, dos tapetes importados, dos cabelos longos... Abro mão das estações do ano bem definidas, do amor livre que eu sentia, de tudo o que era belo, abro mão da juventude, da saúde, da infâmia, do calor humano, da presença de outro corpo além do meu na cama... Abro mão dos suspiros, dos orgasmos, dos dias sem trabalho, da pele acetinada, de tudo feito com calma e com cuidado, abro mão de todas essas vidas. Abro mão das vidas brandas, quase sem dificuldades, nas quais minhas vontades eram feitas. Pronto. -- Olha o que eu fiz...

Abro mão - agora mais próximo de mim - do controle, da tentativa de manter qualquer relação, da tentativa de amar e ser amada, dos momentos de paz, dos de ansiedade também, qualquer segundo sem expectativa é um segundo divino, qualquer momento em que não pense em você ou no que está fazendo é voltar o foco para mim, então é divino por igual... Abro mão do futuro, das minhas vontades, dos meus planos, dos palcos, abro mão de cantar, abro mão dos meus dons, abro mão de ser reconhecida, abro a mão e seus dedos se desencontram dos meus, vão se esvaindo para uma terra distante, e vamos nos distanciando, você vai subindo para outras galáxias, eu fico aqui na Terra com o mundo e o submundo. Você vira ar, eu viro pó. Abro mão da morte, abro mão da vida após esta, da sobrevida, abro mão das noites, das luas Phobos e Daimos, abro mão dos anéis de Saturno, fico com os dedos de volta na minha mão, mão que estava contra a sua, quente, agora já não mais... Mão aberta.