sexta-feira, maio 01, 2009

Cristiana (Maybe California)

Não seria sexy se eu começasse a falar sobre as minhas calcinhas? Elas são de algodão e algumas têm coraçõezinhos. É a primeira coisa que faço depois de me enxugar, vestir uma calcinha. Uma gaveta inteira de calcinhas, de todos os tipos. Mas então as namoradas não viriam mais aqui e se esconderiam de mim, com medo de os namorados(as) descobrirem as minhas calcinhas, o meu sexo, o meu cheiro de mulher, e proibiriam seus homens/mulheres de vir aqui me visitar, e de ler o que eu tenho a dizer. Eu não ia gostar se meu namorado visitasse um blog de uma garota que falasse sobre as calcinhas dela. Eu não gosto de pensar que existem outras calcinhas no mundo além das minhas, quanto mais o que há além delas. Poxa, eu tenho uma gaveta inteira, cheinha de calcinhas, isso não pode ser suficiente?! Eu sei que também gosto de olhar, que o corpo feminino é a coisa mais perfeita que já inventaram, mas queria por um dia inteiro não pensar em peitinhos e bundinhas, e ser um dia inteirinho toda sua. E ser a única. Queria que o seu ser inteiro, a mistura entre o seu ser masculino e a sua ser feminina, fosse namorado do meu ser inteiro, mistura da minha feminina com o meu masculino. Para que tivéssemos um dia de liberdade. Mas como desconheço a minha inteireza, e desconheço a minha própria divindade, milagre único, a minha parte mais maravilhosa (e que existe neste mundo) que sou eu, nascida assim, com tudo o que eu já vivi, eu nego a minha própria sexualidade para fingir que nada mais existe no mundo além de você e além de mim. Eu finjo esse amor, e me restrinjo. Você finge esse amor, e vai morrendo aos poucos. E vamos morrendo juntos. Eu finjo que sou só sua, que minhas calcinhas só ficam coloridas por você. Eu finjo que eu entendo o mundo como é, as capas de revista masculina, o que as mulheres fazem com elas mesmas e finjo que não tenho o menor problema com as suas amigas que também são bonitas, nem com as que são feias mas que você já ficou, e finjo que você pode ser livre sem que isso me magoe. Eu finjo que os homens internalizaram bem as suas imagens de mãe, e que conseguem sim amar outra mulher. Eu finjo porque preciso, porque tenho que sobreviver a isso, não porque eu gosto. E eu olho para você e penso como tudo isso já ficou sem graça, porque é só uma repetição daquilo que todos nós já vivemos e já sabemos que não queremos -- mas que não sabemos fazer melhor porque o mundo passa por essa transformação dos relacionamentos e nós estamos bem na curva -- mas daí a ser completamente permissivo é morte súbita. E acho que eu também prefiro ir sentindo a morte chegar, aos poucos, para ser menos traumático. Geração de plutão em libra: ainda é só o começo. "Ok".

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