domingo, maio 03, 2009

Para sempre

A minha guitarra acústica perdoa, ao contrário de mim. E, por isso, eu a amo. Ela me ajuda a transmutar o que sozinha não consigo. Ela me eleva a potência de universo, o que sozinha não consigo. Ela é maior que eu e aumenta o meu tamanho, o meu alcance passa a ser em ondas ao invés de intervalos. Eu passo a ser contínua, uma voz, um tom, ao invés de relâmpagos explosivos. Eu prefiro viver assim.
oo
Nos tiraram o "para sempre", já perceberam? Onde a gente pode ter o para sempre na vida? Não existe mais eternidade, porque não existe mais além. As dimensões ocorrem simultaneamente. Não existe mais reencontrar os entes queridos e passar a eternidade juntos, porque o Cristianismo não é mais a crença preponderante. Não existe mais nenhum amor que dure para sempre, nem mesmo em pensamento; não existe nada que dure para sempre. Nem a vida no planeta Terra, nem mesmo o Sol, nem mesmo a nossa galáxia vai durar para sempre. E se alguém disser que a eternidade é formada por uma sucessão de eternos inícios e fins, que universos inteiros nascem enquanto outros morrem, é o mesmo ao que estou chamando de eternidade. Mas esse eterno passou a ser finito. O Universo é menos desconhecido e é finito. Não é mais para sempre. Marte está logo ali. Nem o para sempre dos contos de fada existem mais, foram desmitificados. Não existe a menor possibilidade de esticar nossa estadia aqui e, uma vez mortos, acabou; as nossas esperanças, o poder de olhar para cima e pensar que o céu ou o mar são infinitos: não são. A água pode acabar. Os recursos podem acabar. A vida pode acabar. Nossas esperanças morrem quando acordamos para o dia de luta. O amor pode acabar. As lembranças podem ser esquecidas. Nada é para sempre. Ele se foi e deixou a sua sombra. Queremos o para sempre, achamos injusto que outras gerações tenham tido a possibilidade de crer no para sempre (mesmo que não fosse de verdade); era tão bonito. Viver com a idéia de falta, secura, limite, finitude, morte a cada suspiro, a cada esquina, a cada nova possibilidade... É EXAUSTIVO. O para sempre era contínuo, era uma possibilidade de união, e nós vivemos todos segmentados uns dos outros, segmentados dentro de nós e segmentados na própria vida. Somos os espaço entre duas palmas da mão, vivendo no intervalo de tempo entre uma palma e outra.

Um comentário:

d.ID.e disse...

umh... clarice disse "E um dos indiretos modos de entender é achar bonito".


eu achei bonito!

especialmente isso: "o meu alcance passa a ser em ondas ao invés de intervalos" e "Nossas esperanças morrem quando acordamos para o dia de luta"
eu sinto isso todo dia quando acordo. uma dor. o luto da esperança.

luv ya