sábado, maio 16, 2009

SombraS

Escrevo em primeira pessoa para que o leitor tenha a possibilidade de se ver enquanto leitor de si mesmo. Ao invés de chamar você convidando a todos, falo diretamente a um interlocutor que é, ao mesmo tempo, narrador.

É uma possibilidade, um teste, uma inovação que faço por aqui. Não é necessariamente nem você, nem eu. Vamos tentar assim, ok? Vamos imaginar que estamos, os dois, suspensos nesse espaço da transição, e não somos nós agora, mas seres desprendidos de nós mesmos. E somos únicos, mas somos partículas, e somos todos.

Então, agora, vamos falar do momento da invasão. Um jeito de se defender é englobar o outro. Enquanto os homens fazem isso com as suas espadas, as mulheres assimilam o "estrangeiro". Assimilam seus parceiros, suas amigas, as situações, tudo. O mundo não percebe que tudo aquilo que é assimilado pela cultura de cada época passa, inevitavelmente, pela vagina gigante do próprio mundo.

Por isso é bom colocar os pingos nos "i". Os homens matam uns aos outros; oferecem resistência de ponta. As mulheres não oferecem resistência e sugam o outro para dentro. Mas ia dizendo que esse método é igualmente de defesa. Para não lidar com a exposição direta, faço a digestão do outro. É um processo muito orgânico. Não nos defendemos, necessariamente, de todos que encontramos; só quando acontecem as relações de espelho, e puxamos para nós as pessoas que vão nos lembrar daquilo que temos dificuldade de ver. Puxamos para nós pessoas que trazem as nossas sombras. Poucas pessoas trazem boas novas, nos trazem percepções irradiantes daquilo que somos; a maioria nos lembra mesmo de quem somos no aspecto telúrico, nos aspectos mais difíceis (porque são "escondidos", sólidos, secos).

Mas isso não significa que não podemos gostar desse processo e continuar tendo prazer; e quer dizer menos ainda que ele seja fácil de lidar quando acontece na realidade. As pessoas que entram em conflito estão se projetando mutuamente, e é precisamente esse o ponto mais difícil de encarar. A idéia é conseguir uma terceira maneira de lidar com as coisas, além da feminina e da masculina. Nem colocar o problema na ponta da espada, nem engolir para digerir. O negócio é conseguir pensar numa terceira alternativa, que seja (de alguma forma) o somatório das outras duas. É se aceitar enquanto ser maravilhoso e enquanto ser espezinhante também, e se amar nos dois momentos, enquanto rolam os conflitos e até depois, e o que nascer disso, dar comida pra crescer forte e cada vez mais definido em seus contornos mundanos. E aprender essa nova forma de lidar com as coisas, que precisa ser entendida e apreendida antes de ser usada.

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