O poder de ser invisível deve estar sob controle. Estar ou se tornar invisível precisa acontecer sob vontade, precisa ser uma escolha consciente.
O melhor trabalho de quem traduz ou de quem edita é manter-se invisível, imperceptível aos olhos externos. Aquela tradução e edição que passam despercebidas são trabalhos excelentes.
Mas a excelência do trabalho tem um preço: a invisibilidade no reconhecimento. A forma como as pessoas esquecem do óbvio, do que está ali mas que não foi dito nem mostrado. Como se fazer um bom trabalho fosse óbvio, uma obrigação óbvia demais para ser mencionada, reconhecida.
É como a gravidade. Quem repara nela? Tudo só acontece no nosso mundo porque temos a gravidade, ou melhor: só porque temos a gravidade é que tudo é possível. É como o ar que respiramos. Não está aqui? Não é óbvio que o ar inspirado precisa fazer o seu trabalho óbvio e excelente de levar substâncias ao nosso organismo, permitindo que as coisas boas entrem e as ruins saiam?
Mas quem repara no ar que se respira e na própria respiração em si quando ela está normal, conciliada ao ritmo do organismo?
Quem repara a importância do tradutor e do editor? Quem repara? TUDO, absolutamente tudo o que vem de fora e vêm por escrito passa pelas nossas mãos.
No caso da tradução, se os profissionais se fizessem presentes, a tradução deixaria de ser tradução (que é de fato uma transformação necessária) e passaria a ser uma outra espécie de reescrita (adaptação, imitação, etc). E se os editores parassem ou deixassem passar um errinho de ortografia do autor famoso?
Mas quem dá importância a um trabalho (invisível) bem feito?
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