sábado, fevereiro 09, 2008
somos todos marginais
No Rio de Janeiro, somos todos invisíveis e marginais. Não temos presença, nosso voto não conta, não temos voz, ficamos à margem do caos. Que sociedade é esta, indefinida e indefinível? Soltos, largados, vivendo na sarjeta do sonho do que poderíamos ser ou ter sido. Temos uma garrafa pela metade nas mãos e dentro da garrafa existe uma mistura que causa agitação e náusea; a excitação do samba nas veias e nos pés, as batidas do funk no coração, o medo da grandeza da euforia do poder que temos ao gritar os gols do Maracanã, as balas perdidas enquanto ameaças alucinógenas, a paranóia que vem e que é na verdade efeito da amônia misturada ao prensado, há o sangue dos inocentes misturado e dos animais mortos para oferendas; a culpa cristã líquida causada pelo barulho dos goles a galope que fazemos diretamente no gargalo. Perto de nós há um vômito, mas não sabemos bem se é nosso ou se já estava ali quando chegamos. Não sabemos se cobrimos com um saco plástico de um lixinho que estava ali no poste onde estávamos agarrados depois que a água começou a subir, um lixinho que estava ali, fuçado por um cachorro, logo ao lado do cocô do cachorro, ou se deitamos em cima (porque afinal, é nosso... saiu de nós; é sagrado e bonito). Não sabemos ao certo. Mas somos marginais. Se somos playboys, somos marginais para os gays e policiais, somos os "playboyzinhos" maconheiros. Se somos da comunidade, somos marginais para os policiais e para a classe média. Se somos policiais, somos marginais para aqueles que são parados e obrigados a liberar um "cinquentinha". Se somos ladrões, somos marginais para os que trabalham honestamente. Se somos trabalhadores, somos marginais para os políticos. Se somos do funk, somos marginais para os roqueiros; se somos roqueiros, somos marginais para os conservadores. Todos somos marginais. Não sobra ninguém que possa colocar ordem. Sobra a ressaca de ter bebido todo o conteúdo da garrafa e sobra um recipiente vazio que, espera-se poder ser reciclado para o carnaval do ano que vem.
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