Em fevereiro deste ano, eu e mais uns amigos em São Paulo fizemos uma brincadeira que acabou por se tornar bastante ampliadora do sentido da visão. Nós vendamos nossos olhos e formamos um círculo no meio da sala, e começamos a tatear tudo à nossa volta, inclusive uns aos outros. Primeiro nos sentimos planetas orbitando numa constelação, ficamos só rodando ao redor uns dos outros e ao redor de nós mesmos, dando muitas gargalhadas. Depois, a brincadeira era tentar adivinhar quem era a outra pessoa sem a ajuda da audição, apenas tateando na altura, rosto, etc. O objetivo era passar por aquele período de tempo sem enxergar, tentando realizar as ações convencionais de uma reunião social (conversar, ir ao banheiro, pegar coisas na cozinha, trocar a música, etc) sem a ajuda dos olhos.
Claro que algumas pessoas não agüentaram a imposição e roubaram, retirando a venda. Mas outras, como eu, resolveram levar a cabo a experiência. Tentamos mudar a música num som que não funcionava direito, tateando os botões do aparelho. Também fui até a cozinha me servir de um prato de macarrão, o qual já estava pronto na panela, mas que eu tive que esquentar e me servir. Também tive que lavar a louça depois, com os olhos vendados e me servir de vinho (procurar talheres, taça, prato limpos). Uma amiga, também com os olhos vendados, ajudou.
Uma das coisas mais evidentes é que é extremamente possível viver sem a ajuda dos olhos, mas é fato que eles fazem uma falta tremenda, especialmente quando se tem pressa. Por isso imagino que as pessoas cegas sejam bastante calmas, pois são obrigadas a fazer tudo devagar. Não existe a mínima condição de se andar com pressa, tatear objetos na cozinha com pressa, fazer qualquer coisa com pressa.
É interessante. Eu recomendo vendarem os olhos e tentarem a mesma experiência. Muito válido nos experimentarmos nesse sentido. Quem tem todos os sentidos funcionando perfeitamente quase nunca entra nesse universo deficiente. Não sabemos que dificuldades apresentam o mundo nesse universo. No entanto quem entra percebe novas verdades. Verdades que enxergam além do que o que os olhos podem ver.
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